Caros amigos,
Essa semana eu estava vendo imagens das Dingzihu - ou Casas Prego. As Dingzihu são construções de um outro tempo, que visualmente interrompem uma lógica visual de progresso e desenvolvimento. Elas são resultado da resistência de indivíduos que se recusam a sacrificar o seu lar ou terra, o seu mundo e se submeter a pressão avassaladora de poderosas corporações. Não é prático, não é conveniente, mas é o única forma de defesa das questões individuais contra a massificação da visão corporativa.
E aí eu pensei na Artista Impossível....
Passaram-se mais de 12 meses desde a minha carta encerrando a Performance da Artista Impossível. Foi uma decisão muito difícil, que visava criar "alguma" possibilidade para que eu possa viver como a maior parte dos artistas parecem viver. Me preocupa muito que a minha obra conceitual, com quase 30 anos de registros diários do meu viver, seja quase totalmente desconhecida.
A Performance da Artista Impossível foi pensada como uma estratégia de trabalho, que refletia o meu desconforto com o locus da arte em espaços privados e corporativos. Nestes espaços, o trabalho artístico se torna um commodity ou funciona como pano de fundo para selfies, em museus espetacularizados que se assemelham cada vez mais a grandes corporações.
O meio*, nesse caso o museu, se torna a mensagem e a arte nesse espaço controlado por interesses capitalistas cumpre a função de Artwash**.
Assim, volto a pensar que o Contrato de Arte é mais relevante nos dias de hoje do que quando foi concebido e portanto, não pode ser descartado.
Ana Amorim
* Meio
Segundo o conceito de Marshall McLuhan.
** ArtWash
Conceito que desenvolvi em 2000.
... "Aceitar patrocínio de empresas que enriquecem através da destruição do tecido social, é um retrocesso. É fazer exatamente o que o sistema espera que façamos, embelezar as suas ações criminosas. Resistir ao patrocínio corporativo nas artes é algo extremamente inovador".
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